A Organização das Nações Unidas estima que a população humana atinja um pico de cerca de 10,4 bilhões de pessoas durante a década de 2080. Imagina-se então que a produção de fontes proteicas precise crescer proporcionalmente ao aumento populacional. Contudo, de acordo com Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro de Sistema Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública da USP, isso pode não ser tão necessário. “Hoje o mundo tem um consumo de proteínas 80% superior ao preenchimento das necessidades metabólicas dos seres humanos”, destaca.
Nos Estados Unidos, Europa e até mesmo no Brasil o consumo excede amplamente as recomendações para uma vida saudável, enquanto na África Subsaariana e na Ásia Oriental o consumo está abaixo do necessário. Ainda assim, a produção de carne bovina é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa. “Se o rebanho global de ruminantes (sobretudo bovinos) fosse um país, ele seria o segundo maior emissor do mundo”, aponta Ricardo Abramovay.
Para o professor, a produção de carne de frango e suína depende do consumo intensivo de grãos e do uso generalizado de antibióticos, representando uma ameaça à saúde humana. Embora seja importante aumentar o consumo de carne nessas regiões mais pobres, é crucial também reduzir os excessos. Caso contrário, tanto o clima quanto a biodiversidade e a saúde humana sofrerão consequências insustentáveis.
Proteínas artificiais
Para Ricardo Abramovay, a comida de laboratório perde sua relevância, uma vez que “há no mercado produtos baseados em bem-estar animal e sem uso de antibióticos. Ainda são mais caros que os convencionais, mas a pesquisa científica e a pressão social vão ampliar sua massificação”.
Segundo o professor, o mundo tem a capacidade de fornecer produtos animais em quantidades adequadas para uma vida saudável por meio de técnicas regenerativas. É essencial que a criação animal se baseie em alimentos que compitam cada vez menos com a alimentação humana, como as pastagens naturais, por exemplo. Os bovinos conseguem digerir a celulose dos pastos, o que não é possível para nós.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
Fonte: Jornal da USP